O pianista e professor Waldemar de Almeida nasceu em Macau, Rio Grande do Norte, no dia 24 de agosto de 1904, e com seis meses de idade foi morar em Natal. Cursou a escola primária, a secundária e prestou os exames preparatórios para o antigo Ateneu Riograndense. O desejo de seu pai, Cussy de Almeida, era que o filho seguisse a profissão de comerciário, e por isso Waldemar cursou a Escola de Comércio até o terceiro ano. Muito cedo, porém, o piano tornou-se parte dominante de sua vida.
Aos oito anos, Waldemar já tocava de ouvido, e seu talento e perseverança convenceram o velho Cussy a levá-lo para o professor Alexandre Brandão, a primeira pessoa a tocar Chopin na cidade de Natal. Aos dez anos de idade o jovem prodígio participou de uma audição local no Teatro Carlos Gomes, interpretando duas famosas sonatas de Beethoven, a Patética e a Sonata ao Luar. A família intercedeu junto ao pai para que o menino Waldemar fosse estudar no Rio de Janeiro. Sob orientação de Luciano Gallet, preparou-se para ingressar no sexto ano do curso de piano do Instituto Nacional de Música. Foi aprovado em sexto lugar, entre 85 candidatos. De 1920 a 1924 fez parte da classe de piano do próprio Luciano Gallet, além de seguir os cursos de Teoria e Solfejo com José de Lima Coutinho, e (piano) e Harmonia com Agnelo França.
Prosseguiu seus estudos na Europa, mais especificamente em Berlim, entre 1924 e 1927. Na capital alemã recebeu o apoio de alguns brasileiros que lá estudavam, com Walter Burle Marx, Iberê de Lemos (auxiliar no consulado brasileiro e aluno de composição) e Frutuoso Viana, que na época estava escrevendo talvez sua mais famosa peça, a Dança de Negros. Burle Marx deu-lhe a primeira orientação na Europa, e depois Waldemar passou a estudar com Rudolf Hauschild (piano) e Wilhelm Forck (Harmonia). Após quatro anos em Berlin, transferiu-se para Paris, a convite de seu amigo Audifaz de Azevedo (que se ofereceu para custear-lhe os estudos). Viveu na França entre 1927 e 1930 (com um intervalo de dez meses no Brasil) sendo orientado pelo lendário mestre Vlado Perlemutter.
Ao voltar ao Brasil, para um período de férias, pediram-lhe que desse aulas a vários alunos. Logo o Governo do Estado do Rio Grande do Norte nomeou o jovem Waldemar como Professor de Música e Canto Orfeônico do Ateneu Norte Rio-grandense. A volta a Europa foi adiada em definitivo. Em Natal atuou também como professor de Canto Orfeônico e Música Religiosa no Colégio de Santo Antônio, da Congregação dos Irmãos Marista e, em 1º de janeiro de 1933, fundou o Instituto de Música do Rio Grande do Norte junto com Luiz da Câmara Cascudo e Severino Bezerra, a convite do então interventor Bertino Dutra da Silva. Foi diretor do Instituto por cerca de quinze anos, até que um governador do Estado reduziu consideravelmente as verbas de subvenção, prejudicando o funcionamento e o nível da escola. Nessa época, já estava casado com dona Hylda Wicks de Almeida e tinham cinco filhos, Hilza, Cussy de Almeida Neto, Waldemar de Almeida Junior, Clóvis de Almeida Sobrinho e Ana Corintha.
Desgostoso com a falta de visão da classe política (Waldemar de Almeida seria um eterno crítico do papel dos dirigentes nos rumos da política educacional), pensou em transferir-se para São Paulo, onde tinha contatos com o então governador Ademar de Barros, antigo colega e companheiro de seus tempos em Berlim. A amizade de Ademar de Barros falhou no momento decisivo, e isso o fez aceitar o convite do amigo de Recife, Valdemar de Oliveira, para instalar-se na capital pernambucana. Chega ao Recife do primeiro dia janeiro de 1950, com seu filho Cussy de Almeida Neto (então com 14 anos). Chegou para ficar, instalando-se na Av. Visconde de Albuquerque, 233, no bairro da Madalena. Além de lecionar Música e Canto Coral na Escola Normal de Pernambuco, depois Instituto de Educação de Pernambuco (IEP), criou seu curso de piano, instalando-o na Rua do Aragão, nº 77. Muitos foram os alunos que buscaram sua orientação, e dentre eles a mais notável certamente foi Elyanna Caldas Silveira, que ele levou ao V Concurso Internacional Frédéric Chopin, em Varsóvia, a única participante brasileira naquele ano. Na Polônia, Elyanna realizou um recital onde incluiu algumas peças de seu professor, como a Dança de Índios e o Divertimento nº 4 (baseadas no folclore brasileiro), sendo elas muito bem recebidas por público e crítica.
Em 1954, graduou-se bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Recife, da UFPE. Como já iniciara anteriormente o curso, fez questão de concluí-lo para dar um exemplo de perseverança aos filhos e aos alunos. Em 1961 foi convidado para ensinar Música Brasileira no III Curso Nacional de Música Sacra, realizado em Recife. Respeitado como professor no Brasil e no exterior, por diversas vezes foi convidado a fazer parte de comissões examinadoras de concursos de piano realizados em Fortaleza, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife (o famoso Concurso Sul-americano de Execução Musical, promovido pelo Conservatório Pernambucano de Música em 1969). Foi convidado pelo Ministério da Educação para ser examinador em um concurso para a cátedra de piano da Escola Nacional de Música. Anteriormente já atendera convite de Villa-Lobos para conhecer de perto o ensino e a didática do canto orfeônico, que Waldemar de Almeida levaria e aplicaria nas escolas de Natal.
Foi o primeiro presidente da Ordem dos Músicos do Brasil, Seção Pernambuco, que ele ajudou a organizar e instalar. Apesar de estar distante de seu Rio Grande do Norte, ainda aceitou o convite, em 1962, do reitor da UFRN para organizar e dirigir a Escola de Música da universidade. Em fins de 1974, com a saúde abalada e já aposentado do IEP, fecha o curso da rua do Aragão e vai se tratar em São Paulo. O diagnóstico foi de enfisema pulmonar e problemas do coração, que o levariam à morte poucos meses depois, em 26 de maio de 1975. Seu corpo está sepultado em Natal.
O Waldemar de Almeida compositor e educador deixou um legado significativo, que vai além de seus filhos reais e espirituais (seus alunos). O compositor deixou belas miniaturas para piano, como as Paisagens de Leques, as Natalezas (que inclui a Dança de Índios) e os Divertimentos. No seu catálogo há também obras de câmera, para canto e música sacra.
O educador deixou esboçadas obras sobre o ensino do piano, e publicado o livro Normas pianísticas, onde delineia sua visão do ensino da música como experiência transformadora. Waldemar de Almeida estabelece ali princípios que toda escola de música deveria seguir, entre eles a prioridade no desenvolvimento do músico (e não do técnico), o respeito a individualidade e ritmo de aprendizado do aluno e a ênfase na qualidade, nunca na quantidade. Normas Pianísticas foi oficialmente adotado pela Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro e por diversas escolas, institutos e conservatórios do Brasil.
Waldemar de Almeida tem outra faceta, a de ensaísta e memorialista. Em dois outros livros ele faz relatos de viagens à Polônia nos anos 50 e aos Estados Unidos, na segunda metade dos anos 60. Do Recife a Varsóvia reúne todas as etapas da viagem de sua aluna Elyanna Caldas, única representante brasileira no quinto Concurso Internacional Frédéric Chopin. Já Do Recife a Dallas conta sua viagem ao lado da esposa Hilda para visitar o filho Waldemar, violoncelista e professor na metrópole texana. Em ambos os textos vemos sua crença nos valores da cultura e da civilização, e o esforço para mostrar ao Brasil o que era a grande música, como ela devia ser difundida e o bem que ela faz na educação e na formação de qualquer pessoa.